Moçambicanidade e Cidadania


25 de Setembro, Dia das Forças Armadas de Moçambique

Acordei em plena madrugada com ``Moçambicanidade e Cidadania`` na cabeça, um tema que em tempos passados (e até hoje, penso eu) provocou acesos e apaixonantes debates televisivos, radiofónicos e até grandes confusões nas “conversas de esquina”. Mas esses debates só reflectiam o clima de inquietação e preocupação com que o moçambicano se depara quando é convidado a falar sobre este assunto, visto que o afecta (e muito) , tanto do ponto de vista psicológico como emocional.
Mas para irmos adiante nisto, há que tentar dar uma definição sobre o ser moçambicano e cidadania.
Há diversos factores que de influem no ser ou não ser moçambicano, mas de uma forma geral, é ter nascido em Moçambique, e ser filho de pai ou mãe moçambicana. Pode-se também recorrer a aquisição dessa mesma nacionalidade (por casamento, naturalização, filiação, adopção).
O que será então cidadania? Para mim este conceito ultrapassa a comum definição de conjunto de cidadãos, porque ela tem significado muito mais expressivo quando falamos de um país. Seria acima de tudo, a união de todos aqueles que se acham iguais nas suas diferenças, que têm respeito pelos simbolos do país a que pertencem, que se sentem iguais nos direitos e deveres, que todos os dias ao vislumbrarem o primeiro feixe de luz ao acordarem gritam para dentro de sí: Eu sou cidadão do país X, e sou muito feliz em sê-lo!! Não passa disto, sentir-se feliz por sentir que a pátria mora dentro dele, seja ele cidadão originário ou não, seja ele preto ou branco, muçulmano ou hindu.

Há semanas atrás, aquando da deslocação da selecção nacional ao Senegal ouví um comentário muito triste por parte de um convidado do Sérgio Marcos, no programa desportivo “Bancada Central”. Debatia-se a inclusão de muitos “estrangeiros” na equipa, e o tal convidado rematou esta: “Eu não sinto esta selecção como se fosse de Moçambique!!”
Na verdade penso que ele estava triste porque não convocaram um dos que na sua opinião poderia dar um maior contributo a equipa, e no seu lugar colocaram Henning Comé, um jovem MOÇAMBICANO, que reside e joga na Suécia. Ele é filho de pai moçambicano, tem nacionalidade moçambicana, e não se recusou a vestir a camisa da selecção (se bem que nem temos camisa certa) quando a pátria chamou por ele. Não é nenhum Obikwelu (que não condeno,porém também não aprovo), é o jovem Comé, que não ví chorar nas bancadas do Estádio Olimpico de Munique, quando a Suécia perdeu com a Alemanha, muito ao contrário de uma certa figura muito famosa entre nós que desfez-se em lágrimas após um jogo, como se tivesse perdido o filho. Será que esse mesmo individuo chorou quando os nossos “Mambas” foram arrasados em plena Machava pelos “Leões Indomáveis”? Ele nem faz ideia sequer desse jogo ter existido, contudo dizem que ele é um grande embaixador de Moçambique além-fronteiras, quando não passa de um servente (isso mesmo, servente) de Portugal, que quando chega a terra que o viu nascer finge umas lágrimas para sair bem na foto, beija o chão e diz sem vergonha na cara: “Eu tenho dois corações..um que bate por Portugal, e outro que bate por Moçambique.”
Tens dois corações nada, tens é muita falsidade no coração, isso sim!! Não é nada contra o sujeito acima mencionado, porque até sou benfiquista e o admiro como jogador. Isto tudo para dizer que prefiro um Comé com um coração, á mil craques com dois...dois corações furados!!

É mania de muitos considerarem-se “mais moçambicanos” que os outros, por terem a pele mais escura, ou o apelido mais africano, mas isso é produto da educação que esses individuos tiveram. Certa vez, num serviço de Repartição Pública presenciei uma cena triste, em que um individuo que tem o curso concluido dizia “estes brancos agora já se acham moçambicanos”, isto porque um sujeito de raça branca entrou vestindo uma t-shirt com a bandeira de Moçambique estampada. A educação começa lá em casa, podemos até ter mestrados e mil diplomas, mas se temos essas declarações mesquinhas, então não somos nada, o pior de tudo é que saberão que papá e mamã pensam da mesma maneira.Logo, lá em casa somos todos mesquinhos.
Este tipo de situações afecta psicologicamente a qualquer um, porque acordam todos os dias acreditando que pertencem a uma comunidade, e acabam descobrindo que afinal a coisa não funciona bem assim. E os porquês? Porque não são negros, não têm um apelido devidamente africanizado, porque os seus pais não trataram de lhes arranjar um nome bem afro quando nasceram...
Meus caros, ser patriota não significa ter um nome africano ou europeu (consoante o país onde estivermos), o patriotismo assenta em amar o país onde vivemos e o povo á nossa volta. E isto aplica-se a todos aqueles que estão na diáspora (a estudar, trabalhar..), aos estrangeiros que já vivem no país há anos, porque se eles vibram com a alegrias do país e choram as suas desgraças, são também filhos da nação. Não vamos estar aqui a chamar “menos moçambicanos” aos outros por causa da cor ou passaporte que ostentam, temos é que meter de uma vez na cabeça que o nosso país é vasto, criando logo a partida uma enorme diversidade étnica, cultural e linguistica.


Dizia o Presidente Samora: “Não lutámos por uma religião, por uma raça, por uma tribo. Lutámos e continuamos a lutar todos pela mesma Nação, pelo ideal único da libertação da nossa terra e do nosso povo. O tribalismo e o regionalismo impedem-nos de assumir a grandeza do nosso país e da luta, não permitem compreender a complexidade da nossa Pátria, e sobretudo dispersam as nossas forças.”
Agora pergunto eu:
Será que todos sabemos e sentimos da mesma maneira o que é ser patriota?

PENSEM NISSO....

Tsapau

PS: Os nomes que estão na bandeira são de verdadeiros patriotas, homens que perderam e deram a vida servindo a nação. Estes sim, são expoentes máximos dos conceitos CIDADÃO e MOÇAMBICANO, porque em vida destacaram-se pela procura de soluções para os problemas que afectam o nosso país, dedicando-se a tempo inteiro e exercendo as suas funções com zelo, dignidade e acima de tudo PATRIOTISMO.