Profissão --- Estudante
08 novembro 2006 by Tsintsiva_Tsapau_Mafurra
Há dias atrás estava eu a caminho de casa numa das nossas ruas com o passeio todo desfeito e estrada toda desnivelada (efeito das obras ditas de reparação que foram alvo), quando encontrei um amigo dos tempos da escola secundária. Páramos ali mesmo, e entre gargalhadas e recordações dos tempos em que “massacravamos” os professores fomos pondo a conversa em dia. Naquele blá blá básico da vida e tudo mais ele me contou que já é engenheiro...mais um engenheiro desempregado (como ele mesmo disse)!!Congratulei o homem pelo feito, e fui tentando (em vão, diga-se) atenuar a vísivel frustração que ele apresentava pela situação que estava a passar.
Segundo ele, todas as portas que ele batia exigiam aquele requisito que todos conhecemos, o inevitável inimigo público número 1 de todos aqueles que tentam a sorte no mercado de emprego, o famoso 5 anos de experiência (isso quando exigiam, porque muitas vezes levava um não grande e redondo como a cara do Guebuza).
Depois de muita conversa jogada fora, despedimo-nos e cada um seguiu o seu caminho. Entretanto, no meu caminho pus-me a pensar: porque é que as nossas instituições de ensino (superior ou média) não nos ensinam a ter visão? Ou seja, saber criar os nossos próprios empregos, porque quando o aluno acaba a faculdade fica completamente desorientado porque não sabe o que vai fazer da vida. Enchem-nos de teorias e mais alguma coisa, mas de prática e visão que é bom e fundamental não ensinam nada.
Nisto viramos a espada para o Estado, “porque o Estado não dá emprego, o Estado não ajuda”, mas sabemos de antemão que tal Estado nos vai mandar um “manguito” bem comprido com a mão esquerda (porque a direita estará ocupada a assinar um novo endividamento com o FMI) e vai sempre pegar naquela escapatória de “esses jovens não querem ir para o campo” para mais uma vez distanciar-se do problema.
Somos ensinados como leões dentro de uma casa, que quando devolvidos a sua natureza morrem á fome. E porquê? Não sabem caçar...
É isso que falta nas nossas faculdades, ensinar o aluno a caçar, saber criar o seu próprio emprego, e não ficar sentados esperando pelo Estado que nunca vai chegar para oferecer o tal posto de trabalho. Se conseguimos durante tantos anos resolver Equações Diferenciais ou exercícios de Mecânica Racional, porque não podemos sentar e fazer simples cálculos de quanto necessitamos para abrir um negócio próprio que pode render um dinheirinho X no fim do mês? Não tem dinheiro? Há aí tantos bancos que agora se disponibilizam a fazer empréstimos. E assim, passo a passo vamos construindo a nossa vida... o nosso próprio emprego!
Na faculdade não ensinam isto, e se a pessoa não tem horizontes alargados (que é o normal) fica estagnada durante anos.
Eis o grande mal das instituições de ensino de Moçambique: não fornecerem bases que abram a mente do individuo para que este saiba criar o seu próprio emprego, fazer prática da teoria que durantes anos engoliu.
Este teu post leva-me a pensar em duas coisas. A primeira tem a ver com as faculdades. Concordo (sería ignorante se não concordasse) quando dizes que as faculdades devem preparar os seus alunos para o mercado de trabalho. Não é isso que acontece porque a componente prática relacionada com a realidade quase não existe em muitos estabelecimentos de ensino. Eu não tenho muita razão de queixa na minha faculdade aqui em Portugal, mas há outros alunos que têem razões de queixa.
A segunda questão é que acho que o problema em Moçambique não são só as faculdades. Repara, mesmo que as faculdades fossem as ideais, o sistema de funcionamento do país não quer muito mais do que tem agora. Como dizes, Moçambique está a viver muito bem com os acordos do FMI, com o perdão das dívidas... O problema está na mentalidade geral. É isso que tem que mudar... é isso que não é fácil. Depois de se mudar isso as coisas vão melhorando aos poucos. Pode ser uma visão deveras optimista, mas é a minha. É assim que vejo as coisas e é assim que vejo as coisas a melhorarem.
"é preciso trabalhar, e parar de reclamar, nao adianta lacrimejar que nada cai do céu...Esta vai para os manos que abandonaram a school aos 15, de mnha sao ovelhas e a noite sao lobos, fazem-nos correr que nem loucos.." Duas Caras
Tsapau, muito bem dito. o ppl fica a espera de job mas deviamos sair e ver uma cena qualquer, mesmo jobar num restaurante como garçom, garçom tambem é emprego, ao menos nao roubamos nada de ninguem. quantos manos formados andam ai nas ruas como loucos? foram anos "perdidos" nas carteiras para nada pelos vistos...
Um abraço ao Tsapau e tsintsiva, e keep doing it..bem curto e grosso
AC