25 fevereiro 2007
by Tsintsiva_Tsapau_Mafurra
Carta a bancada Par(a)lamentar da Renamo
Senhores deputados:
Sou um jovem cidadão moçambicano, nascido nos fins da década de 80 e que portanto, assistí ao nascer do multipartidarismo no nosso país e tenho acompanhado o seu (não) desenvolvimento. Volvidos que estão 15 anos após o fim da Guerra Civil, e 13 da instauração do multipartidarismo, esperava no minimo uma oposição que tentasse fazer frente ao partido no poder no que respeita a apresentação de ideias construtivas para o desenvolvimento do país. É muito provável que as ideias que são propostas pelos senhores não tenham aceitação, porque como sabemos a vossa bancada tem pouco poder de votação em relação a bancada do partido no poder (e enquanto não mudarem de atitude assim continuará por muitos e longos anos), mas isso não significa baixar os braços, ficar a falar ao telefone durante as sessões parlamentares ou simplesmente adormecer na cadeira. Até porque dormir na cadeira faz mal a coluna...
Senhores deputados:
Treze anos é tempo mais que suficiente para começarem a “mostrar serviço”, mostrar que não estão ali para serem submissos, ainda por cima quando o oponente se chama FRELIMO. É certo que a FRELIMO detém maior número de assentos, e qualquer que seja a lei vinda das bandas do “Futuro Melhor”, aliás, “Força da Mudança” (o futuro foi tão positivo que acharam melhor introduzir uma certa mudança), será sempre aprovada, mas isso não implica que os senhores não devem trabalhar para mostrar as dificuldades do povo que os elegeu. Mostrar inconformismo não é de modo algum provocar distúrbios, até porque se estão ali é para chegarem a um consenso por via do diálogo, porque se bem me lembro quando não tinham argumentos ficavam lá nas matas a disparar rajadas de AK-47, e aí não tinham que pensar muito... O povo quando vê aquelas cenas tristes que a TVM (parceira da Frelimo) faz questão de mostrar pormenorizadamente mete as mãos á cabeça, como que a dizer “ Xikwembu xa ga Ni Nhike Mani a Humudzuku dzaga xa na” ? Batuques, panelas, apitos, ovos já ví serem tocados e arremessados dentro da casa onde supostamente se decidem as prioridades do povo. Mete nojo ver senhores, pais de filhos e acima de tudo com um compromisso assumido com o povo protagonizarem cenas daquelas. Isso sem falar no salário e nas mil e uma regalias de que dispõem. Se pretendem virar marimbeiros existe um festival anual muito conhecido no nosso país, podem ir lá e inscrever o vosso grupinho, porque de verdade não passam disso.
O povo não quer timbileiros a dirigir os seus destinos, até porque se quisessemos nomeavámos os Timbila Muzimba que dignificam e mostram o quão belo e culturalmente rico é o nosso país, atraindo investimentos que os senhores não sabem canalizar para o povo, deixando-os a mercê dos vossos colegas da assembleia que tratam de delapidar sem contemplações. O tempo gasto no planeamento daquelas zaragatas, podia ser muito bem usado na busca de soluções e propostas para a enorme lista de problemas que o povo diariamente apresenta.
Quase todos anos temos cheias e ciclones que fustigam as populações, aumentam a pobreza e semeiam o terror no seio da população mais desfavorecida. Que tal tentar (ao menos tentar) elaborar um plano de crise?
A criminalidade e em particular o crime organizado vai crescendo a olhos vistos no nosso país, e nada (embora os vossos colegas digam o contrário) é feito para mudar essa situação. Estamos a criar Corleones e Tattaglias neste “nostro” pobre país.
O número de pedintes nas esquinas aumenta a um ritmo alucinante, tal e qual vai aumentando o fosso entre ricos e pobres. E o que é feito? Hmmm, mudaram aquele slogan de “luta contra a pobreza” e instituiram a “erradicação da pobreza absoluta”. Como a palavra erradicação é meio complicada, lá foram os senhores cair na conversa que fez o boi dormir. Ainda ontem uma senhora chorava na televisão porque o seu filho único perdera o lugar na escola por falta de vagas. Mas ontem mesmo ví o presidente Guebuza a proferir umas palavritas básicas no parlamento(chamaram de discurso), e onde dizia que uma das prioridades do seu governo era o ensino para todos. Vagas até existem, a verdade é que o tal “deixa andar” e o “cabritismo” que muitos diziam extintos ainda imperam nas nossas escolas, e quem sofre com isso é o povo com a carteira vazia que não consegue cobrir a proposta que o “leiloador de vagas” vai atirando até chegar ao valor que lhe agrada. Que tal senhores deputados, sentarem-se naquele barzinho que tanto gostam e frequentam e tentar arranjar uma solução para que o filho da Dona Artemiza (aquela Renamista ferrenha) no próximo ano possa estudar?
Todos os dias sou obrigado a levar com “luta contra o HIV/SIDA” e “erradicação da pobreza” em tudo que é noticiário nacional. Mas a verdadeira luta tem que ser contra a corrupção, porque ela é que vai penetrando em todos os sectores da nossa Sociedade. O vírus “Corrupção” penetrou nos fundos do HIV/SIDA que são desviados ao mesmo ritmo das contaminações, enraizou-se nos profissionais de educação que tinham como obrigação formar quadros que soubessem dar continuidade a luta para a redução da descrepância social que se vive em Moçambique.
A informação que as crianças recebem na escola (e até em casa) só me leva a pensar isto: estaremos a formar GRANDES continuadores do “cabritismo” e do “deixa andar”.
Não sou renamista (Se Deus existe que me livre disso), e muito menos frelimista (arghh). Sou simplesmente um filho desta nação que observa com muita atenção, e que acredita que a oposição poderia fazer um esforço minimo para agradar o povo que os elegeu.
Enquanto os cães ladram, a caravana vai passando, passam até á ritmo de camaleão, mas roubando e pisando o povo 10 vezes mais que há 13 anos atrás.
Penso que a cultura parlamentar já se consolidou, e a oposição deve agir com responsabilidade e respeito pelo eleitor.
A não ser que foram afectados pela Síndrome de Estocolmo e apaixonaram-se pelos seus raptores, neste caso os vossos rivais, e pretendem ficar reféns dos ideiais frelimistas para a vida toda.
PENSEM NISSO...
Tsapau
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