Aprendendo a Lutar - Parte 2

Continuando o post de ontem... Note-se na imagem a pedra agressiva que iria de seguida agredir violentamente o caixote do lixo criando um ruído perigosissimo, o som da INSATISFAÇÃO !!! E se estiverem bem atentos à mão que carrega a pedra, poderão notar que não se deve tratar de nenhum jovenzinho emocionado....A Sociedade esteve lá, pouca mas variada !
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OPRESSÃO & INTIMIDAÇÃO

Dentro e fora da esquadra vivia-se num clima de nervosismo. Do lado de fora a vigia era constante e apertada, e estavámos totalmente desinformados sobre o destino dos nossos camaradas. Do lado de dentro (o pior lado),a opressão estava a ser usada como arma para intimidar os detidos. “Pretos estúpidos, andam a ser agitados por esses mulatos e brancos, mas eles têm costas quentes, vocês vão queixar onde” ? Ou ainda: “o país é nosso”, isto dirigido ao Joel, como se ele não fosse moçambicano. De tão ignorantes que são, devem pensar que a cor da pele determina o país onde a pessoa nasceu. Pobres coitados!!! Estiveram anos a lutar contra o regime colonial fascista português, porém, hoje voltam a oprimir o povo. Pois saibam agora que nessa vossa opressão e intimidação criaram filhos bastardos,e são muitos. Uns já sairam à rua para se mostrar, outros andam por aí à espreita da oportunidade para se mostrarem. Uma outra frase que vale a pena mencionar é esta: “ São todos estudantes esses, têm ciência na cabeça, só vão dar problemas”. Deve ser por isso que muitos irmãos meus nem a 7ª classe conseguem ter, porque quem manda alega motivos de falta de vagas, falta de condições para construir mais escolas. Talvez a dica seja sabotar nas bases e criar ignorantes, chegam no dia de voto e é só pôr impressão digital por cima do candidato, sem ler nem compreender.

“Um povo culto, é um instrumento da sua própria libertação”.


IMPACIÊNCIA, MAIS INTIMIDAÇÃO...

O tempo ia passando e quase nada de concreto se dizia. O advogado saiu com uma primeira informação de que os detidos sairiam às 15.30 horas. Chegado esse tempo, nada aconteceu. Disseram dentro de 20 minutos. Vinte minutos e nada!! 17 horas foi a hora marcada para a soltura dos jovens, porém nada voltou a aconteceu. Segundo informações recolhidas na esquadra, eram “ordens superiores” e os detidos estavam a receber “lavagem cerebral”. A intimidação continuava, com vista a enfraquecer psicologicamente os detidos, e tirar ânimo aos amigos que estavam do lado de fora. Por outras palavras, eles só estavam a mostrar quem manda nisto... Uma outra informação que circulava, era de que eles permaneceriam nas celas até segunda-feira, e de lá iam directo para tribunal. “Qual o crime”? – perguntavámos nós. Podiam até alegar manifestação ilegal, mas desde quando isso foi motivo para um cidadão ficar 48 horas na cela e ir directo para o Tribunal? Até porque não lhes foi instaurado nenhum processo. Só em Moçambique mesmo...

Já estava mais do que claro que os nossos camaradas naquela noite iriam pernoitar nos imundos calabouços da 7ª esquadra (como já adivinhavámos que eram e eles nos contaram). Como não havia muito por fazer, os pais e amigos decidiram fazer um apelo que seria passado nas televisões e rádios que estivessem disponiveis, em que contavam o sucedido naquela manhã e apelavam ao bom senso de quem de direito para soltura imediata dos jovens. O apelo foi passado na Stv (mais uma vez), contudo nada mudou naquela noite. Era hora de ir para casa, porque de nada adiantaria estar ali.

Na manhã seguinte, logo nas primeiras horas do dia, um dos pais recebeu uma chamada do advogado na qual ele dizia que os jovens sairiam logo naquela manhã. Quando estava tudo assegurado para a saída, eis que surge outro entrave: agora eles teriam que ficar na 7ª esquadra até às 15 horas e depois apresentarem-se directamente no Comando da República. Já estavámos saturadíssimos desta lenga-lenga... enso que eram quase 10 horas quando finalmente os jovens foram postos em liberdade, depois de sentirem na pele como as coisas (não) funcionam em Moçambique.

A JUSTIÇA UM DIA SE AFIRMARÁ !!

Mesmo depois de provada a ilegalidade da manifestação, com pouca participação das pessoas, penso que a manifestação foi um sucesso. Quanto à ilegalidade, não há muito a dizer, quando chegamos ao local, ninguém sabia de nada, existiam é pessoas ávidas de fazer algo. Posso definir a manifestação como um encontro de jovens com ideias convergentes, um workshop momentâneo de ideias e sentimentos. Desconhecidos quando chegamos, bastaram 15 minutos e já erámos amigos de longa data.

“É um sonho, que desejo nunca acordar, que me guia conduz, dá-me forças para expressar sentimentos, esperança, metas por cumprir, por isso eu vou sonhar... (..) é um sonho de um moçambicano que tem fé e amor”!! In, Chacal & Kj (HipHop Moçambicano)

Foi exactamente esse sonho que guiou esses jovens naquele momento.Para os que não foram, sinceramente perderam a oportunidade de gritar bem alto pelo menos metade daquilo que vos passa pela cabeça. E depois amanhã não reclamem, porque há coisas que só vêem uma vez na vida. Afinal de contas nós nascemos em Moçambique. Nascidos e criados, somos Filhos da Nação!! Não nos podem “lavar” os sonhos.. Deixem-nos sonhar, deixem-nos expressar os nossos sentimentos...

A LUTA CONTINUA !!

Como se diz e bem, aqui neste canto:
PENSEM NISSO...
E.Saranga

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