Felizmente alguém correspondeu ao nosso pedido e nos enviou um relato fiel dos acontecimentos. Dividimos em dua partes pois o texto é bastante longo... Aqui fica a manifestação que pôs em causa a segurança do estado! Vejam pela foto (obrigado por isso também) que é muita gente a manifestar-se e reparem na violência dos contentores!! Deviam mandar os contentores para a reeducação no Niassa !!-------------------------------------------------------------------------------------------------
Como já deve ser do conhecimento geral, no passado sábado (dia 23/03/07) realizou-se uma manifestação pública como corolário do caso da explosão do Paiol de Malhazine. Os manifestantes exigiam a demissão do Ministro da (In)Defesa, Tobias Dai. Eu fui um dos participantes da manifestação, e na qualidade de “participante activo” e de ter sido um dos primeiros a chegar ao local dos acontecimentos na companhia do meu amigo Joel Prista, sinto-me no dever e necessidade de (tentar) contar o que realmente se passou na Avenida 24 de Julho. Isto até para ajudar a esclarecer certas coisas, visto que desde sábado que temos ouvido e lido mil e uma versões sobre a manifestação.
Uma das versões conota os manifestantes à membros e simpatizantes do partido da Perdiz. Devo dizer que a piada até caiu bem, naquele momento estavámos tensos e serviu para desanuaviar. Todos (os poucos) manifestantes que ali estavam desviam-se de qualquer força politica deste país. Uma outra noticia dá conta de que erámos cerca de 40 manifestantes. Hmmm...só me lembro de vir 15 pessoas (isso contando comigo) no meio da estrada, o resto não passavam de meros espectadores, até faziam melhor figura se tivessem ficado em casa a assistir as repetições da implosão do “Quatro Estações”.
Como fomos lá parar?
No dia 24/03/07, recebemos várias mensagens sobre uma manifestação em frente à Assembleia da República a pedir a demissão do Ministro da (In)Defesa. Como eu e o meu amigo Joel Prista somos de opinião que o ministro se deve demitir, numa das nossas conversas combinamos passar pela manifestação. E sábado dia 31, cinco minutos antes da hora combinada (9 horas) lá estavámos nós do outro lado do passeio da Assembleia. Quando chegamos penso que estavam 3 jovens, mas como ninguém conhecia ninguém, cada um ficou no seu canto. Volvidos alguns minutos foram chegando mais algumas pessoas, assim à “conta gotas”.
Cerca das 9.30 horas, quando já faziamos um número próximo de 20 pessoas , isso contando com fotógrafos e alguns elementos infiltrados da SISE, juntamo-nos para tomar uma posição e saber se alguém dos que ali estavam fazia parte da organização. Todos responderam negativamente. Avançamos com um plano, porque afinal de contas fomos ali para fazer alguma coisa. Decidimos que esperaríamos até as 10 horas, e ao fim desse tempo entravámos em acção. O plano esboçado foi dar um “bom uso” aos contentores de lixo que estavam mesmo na nossa frente, usando-os para barricar uma das faixas da avenida e a faixa do outro lado seria barrada por um veiculo de um dos manifestantes. 10 horas e o primeiro contentor era mandado para a estrada, tal como Alberto Chipande quando às 21 horas em ponto deu inicio a Luta de Libertação Armada. Está mais que óbvio que isso perturbou a circulação normal do trânsito, mas a ideia era essa, chamar atenção. Até porque os condutores moçambicanos são todos chapeiros e lá iam arranjando alguma artimanha para passar. Com as duas vias fechadas, pusemo-nos no meio da estrada e enquanto uns gritavam palavras de ordem, outros mostravam que assistir o Festival de Zavala até é produtivo, tal era a perícia com que batiam nos contentores e produziam sons harmoniosos. Dentre as palavras de ordem posso destacar: “TOBIAS DIE, O Povo Está Na Rua”, “Estamos cansados do DEIXA ANDAR”, “O Povo Está F*****” e “Abaixo ao NEPOTISMO”.
Durante cerca de trinta/quarenta minutos gritou-se e bateu-se nos contentores em bom e alto som, enquanto os fotógrafos faziam o seu trabalho, e os infiltrados iam analisando bem o terreno. Isto até chegarem os “cães raivosos” (PRM), que comandados por um individuo arrogante e prepotente puseram-se a ameaçar-nos. Nenhum de nós reagiu, e passamos do meio da estrada para o lado do passeio. Ali os “cães raivosos” mais uma vez ordenados pelo individuo que transpirava prepotência, voltaram à carga e iam empurrando-nos, numa clara tentativa de provocar confronto para assim poderem ter motivos para uma detenção. Afinal de contas eles não tinham argumentos, nós não matámos à ninguém, não desalojamos familias, não tiramos braços e pernas de pessoas inocentes... Nos empurrões, nem a uma senhora que já não tem 30 anos eles respeitaram. Mas foram infelizes, porque não apanharam individuos sem capacidade pensante, em momento algum entramos em confronto.
Frustrados, decidem fazer o primeiro preso. Sighona Khosa (e não Esaú, como se tem dito por ai nos jornais) é levado para a carrinha da policia, e nós revoltados, decidimos ir atrás, porque afinal de contas cometemos todos o mesmo acto. A carrinha seguiu para a 7ª esquadra (Bairro do Alto Maé) e o pequeno grupo de manifestantes seguiu para lá. No local, mais um individuo foi preso porque exigia que todos entrássemos na esquadra, pelo mesmo motivo que aleguei acima. Nisso os “cães raivosos” cumprindo ordens do chefe prepotente trataram de mandar-nos para longe dali, mas sem sucesso. Saiu um outro chefe (um pouco mais calmo) e disse que tinhamos que afastar para o outro lado, ou seja, não ficar em frente à esquadra. Entretanto chega uma carrinha da policia com 3 jovens estrangeiras que estavam no momento certo na hora errada. Soubemos através do namorado de uma delas que eram duas cidadãs italianas e uma alemã. Motivo? Tive a sorte de me encontrar com uma das cidadãs italianas no Domingo, e ela explicou-me que o homem prepotente chegou perto delas e ordenou que as levassem, porque segundo ele, elas participaram da manifestação. “Levem estas, eu ví, eu ví, estas também estavam”- detalhou a cidadã italiana, imitando o chefe prepotente.
Mas não satisfeitos, voltam e pegam o 3º cidadão moçambicano. Vendo que a situação estava a ficar muito critica, decidimos contactar tudo que fosse meio de comunicação social para comparecerem no local. Chegou primeiro a reportagem da STV (para variar) e tentaram sem sucesso obter informações dentro da esquadra. Passaram depois para o nosso lado, onde entrevistaram duas pessoas se a memória não me atraiçoa. A presença da reportagem da STV teve impacto e muita gente se aproximou do local para saber o que se passava. Isto irritou os “cães raivosos” que mais uma vez trataram de aumentar a distância que eles queriam entré nós e a esquadra.
Um tempo depois fazia-se a 4ª baixa entre nós. O meu amigo Joel era preso, mas desta vez por policias à paisana, que foram até junto de nós e solicitaram ao Joel para “ir dar uma volta”. Eu como estava atento e ví de onde os individuos sairam fui atrás, mas fui “recomendado” a voltar, para não aumentar os nossos problemas. Restava-nos aguardar pelas decisões e noticias que um e outro conseguia colher lá de dentro.
Penso que 1 hora e meia depois ou duas as cidadãs estrangeiras sairam em liberdade, isso depois do cônsul da Itália ter comparecido na esquadra. Como ela me disse, o comandante mandou soltar para “não estragar as boas relações diplomáticas”, porque teve um momento de inteligência ou recebeu um telefonema (hipótese mais viável) que o fez lembrar que “70% do orçamento do Estado vem do Governo Italiano”.
Depois da soltura das estrangeiras, não recebiamos muitas informações sobre o que acontecia lá dentro, sabiamos só que os nossos camaradas estavam a ser interrogados.
Mas nisso, fomos descobrindo algumas coisas. Uma delas foi que o verdadeiro gabinete do comandante ficava lá fora, debaixo de uma grande acácia amarela, mesmo ao lado de uma barraquinha previamente e intencionalmente munida de um barril de cerveja. Ali ele recebia e dava ordens, com direito a continência e mais alguma coisa, tudo isso sem deixar o sua “geladinha” de lado. Até porque estava calor mesmo, e mais valia apanhar um ar fresco e refrescar a garganta. Gabinetes modernos, eu é que estou a envelhecer cedo...Entretanto, os pais reunidos decidiram-se pela contratação de um advogado, visto que o tempo passava mas de noticias positivas nada havia. Mesmo afastados da esquadra, erámos constantemente vigiados, umas vezes por elementos à paisana, outras por policias afectos à 7ª esquadra.
Chamadas iam entrando de familiares e amigos a avisar que a Stv estava a passar a informação. Obrigado Stv mas penso que poderiam ter feito mais e melhor, afinal de contas o caso alongou-se... Mas já sabemos que receberam “ordens superiores”. É a isto que chamam “Liberdade de Imprensa e de Expressão”.
OPRESSÃO&INTIMIDAÇÃO
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